Olhares e vozes negras sobre o racismo: resistência e perspectivas
A graduação em História e principalmente os lugares onde trabalho continuam influenciando profundamente minha formação, sempre voltada às questões sociais. Em minha vida adulta recente, várias vezes me veio a oportunidade de refletir sobre a educação racista que recebi e a ouvir pessoas que são vítimas do racismo. A internet oportunizou isso também, felizmente.
Assim, de cerca de três anos para cá, vozes do feminismo negro, e de intelectuais negras, versando sobre lugar de fala e outras questões pertinentes ao racismo estrutural (algumas sendo donas de canais na plataforma YouTube) tem despertado muito meu interesse sobre a questão. Na realidade, diria mesmo que a expressão “despertar interesse” soa um tanto quanto fútil, uma vez que os assuntos ligados à negritude são extremamente sérios, pois estamos tratando das raízes do nosso país e mesmo da humanidade, independendo de “interesses”. Creio que seja obrigação de todos ouvir e ler essas vozes, e contribuir para a quebra de um paradigma branco que é muito, muito forte ainda em nossas mentalidades e estruturas sociais, alimentando injustiças que, se não lermos e estudarmos sobre, não refletiremos e ajudaremos a perpetuar.
No início deste ano de 2019, em meu site próprio, reuni reflexões e referências femininas negras (canais do YouTube que sigo e intelectuais), que, se você quiser, pode conferir os links dos vídeos, fotos e falas das intelectuais – e outras referências – aqui: http://alinidades.com.br/
Comentarei neste post três livros de intelectuais negras, uma delas brasileira, que li e que ainda estou lendo, e me abriram a mente para riquíssimas reflexões e para que eu mesma pensasse no meu próprio racismo.
O que é lugar de fala? , de Djamila Ribeiro
Livro pequeno (apenas no formato) e essencial dessa grande intelectual brasileira. A obra é densa e a vejo como essencial para todo aquele que trabalha com educação (na verdade seria essencial a formação de todo brasileiro inclusive). Do meu lugar, posso dizer que as ideias que Djamila traz servem à pessoa branca para que ela pense no seu privilégio e nos paradigmas que sustentam opressões. Ela versa especialmente sobre o lugar da mulher negra, sobre o qual recai a questão não só do racismo como a questão de gênero (ela chega mesmo a falar em um “não lugar”).
Olhares negros: raça e representação, de bell hooks
Intelectual norte-americana de origem negra e indígena, acredito que ela prefira seu nome escrito em letras minúsculas provavelmente num movimento de resistência a estruturas de dominação. Este ainda não terminei de ler, e por enquanto o que posso dizer é que ela irá discutir a força das representações negativas de negritude e como isso contribui para sustentar a supremacia branca. Ela também discute autores que propõem uma resistência/combate a essas estruturas.
Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano, de Grada Kilomba
"Conheci" (ouvi falar de) Grada na bienal de arte de São Paulo de 2016, onde havia um trabalho crítico dela exposto que me chamou bastante a atenção. Neste ano de 2019, tive a oportunidade de dar de cara com esse livro e logo o adquiri (ainda lendo no momento também). A autora discute descolonização do conhecimento e fala de racismo dentro da academia (sobre como muitas vezes intelectuais negres são considerades "subjetivos" demais frente a uma pretensa "objetividade" branca, esta legitimada como científica de fato). Oferece também uma perspectiva da psicanálise onde discute o fato de que tudo que é execrável na psique da branquitude é projetado no negro/nos corpos negros.
Assim, de cerca de três anos para cá, vozes do feminismo negro, e de intelectuais negras, versando sobre lugar de fala e outras questões pertinentes ao racismo estrutural (algumas sendo donas de canais na plataforma YouTube) tem despertado muito meu interesse sobre a questão. Na realidade, diria mesmo que a expressão “despertar interesse” soa um tanto quanto fútil, uma vez que os assuntos ligados à negritude são extremamente sérios, pois estamos tratando das raízes do nosso país e mesmo da humanidade, independendo de “interesses”. Creio que seja obrigação de todos ouvir e ler essas vozes, e contribuir para a quebra de um paradigma branco que é muito, muito forte ainda em nossas mentalidades e estruturas sociais, alimentando injustiças que, se não lermos e estudarmos sobre, não refletiremos e ajudaremos a perpetuar.
No início deste ano de 2019, em meu site próprio, reuni reflexões e referências femininas negras (canais do YouTube que sigo e intelectuais), que, se você quiser, pode conferir os links dos vídeos, fotos e falas das intelectuais – e outras referências – aqui: http://alinidades.com.br/
Comentarei neste post três livros de intelectuais negras, uma delas brasileira, que li e que ainda estou lendo, e me abriram a mente para riquíssimas reflexões e para que eu mesma pensasse no meu próprio racismo.
O que é lugar de fala? , de Djamila Ribeiro
Livro pequeno (apenas no formato) e essencial dessa grande intelectual brasileira. A obra é densa e a vejo como essencial para todo aquele que trabalha com educação (na verdade seria essencial a formação de todo brasileiro inclusive). Do meu lugar, posso dizer que as ideias que Djamila traz servem à pessoa branca para que ela pense no seu privilégio e nos paradigmas que sustentam opressões. Ela versa especialmente sobre o lugar da mulher negra, sobre o qual recai a questão não só do racismo como a questão de gênero (ela chega mesmo a falar em um “não lugar”).
Olhares negros: raça e representação, de bell hooks
Intelectual norte-americana de origem negra e indígena, acredito que ela prefira seu nome escrito em letras minúsculas provavelmente num movimento de resistência a estruturas de dominação. Este ainda não terminei de ler, e por enquanto o que posso dizer é que ela irá discutir a força das representações negativas de negritude e como isso contribui para sustentar a supremacia branca. Ela também discute autores que propõem uma resistência/combate a essas estruturas.
Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano, de Grada Kilomba
"Conheci" (ouvi falar de) Grada na bienal de arte de São Paulo de 2016, onde havia um trabalho crítico dela exposto que me chamou bastante a atenção. Neste ano de 2019, tive a oportunidade de dar de cara com esse livro e logo o adquiri (ainda lendo no momento também). A autora discute descolonização do conhecimento e fala de racismo dentro da academia (sobre como muitas vezes intelectuais negres são considerades "subjetivos" demais frente a uma pretensa "objetividade" branca, esta legitimada como científica de fato). Oferece também uma perspectiva da psicanálise onde discute o fato de que tudo que é execrável na psique da branquitude é projetado no negro/nos corpos negros.
Para analisar a questão do preconceito racial no Brasil, não podemos fazê-lo sem considerar nosso passado de uma economia colonial escravagista e, na atualidade, atentarmos para a situação econômica e social. São esses elementos que nos darão um norte para análise desse fenômeno perverso que é o racismo. Não existirá política pública capaz de vencer o racismo se essa não for capaz de promover econômica e socialmente a população preta do país. Investindo em educação, inclusive com políticas reparatórias, e inserindo essa população no contexto econômico. Ao fazer isso, as periferias, o sistema presidiário, serviços braçais, assumiriam outra paisagem. Esses lugares passariam se constituir um mosaico de cores, não mais a prevalência da cor preta. Só modificando esse quadro social poderíamos admitir que o combate ao racismo estaria ocorrendo no país
ResponderExcluirSuas palavras são essenciais a essa discussão e concordo plenamente com elas. De fato, a promoção socioeconômica na vida pratica efetiva relaciona-se profundamente ao nosso passado histórico e aos discursos vigentes no presente. Obrigada pela sua participação, Cila!
ExcluirOi, Aline, o seu tema me toca de uma maneira bem especial, pois estou estudando a literatura produzida por mulheres negras no Brasil e essas obras fazem parte do meu referencial teórico, pois, entre outros assuntos, é inevitável não discutir o feminismo negro, preconceito racial, o machismo e o racismo estrutural, aquele mais singelo, mas que é determinante para impedir que mulheres negras assumam o protagonismo em espaços institucionais.
ResponderExcluirAline, o tema é muito pertinente para nossa realidade , onde falamos tanto em discriminação, mas não fazemos nada para que isso mude, vemos o tempo todo vários episódios de racismo e nada é feito, punir as pessoas talvez não seja o caminho, mas conscientizar e mostrar outras culturas, e assim respeitar pelo conhecimento.
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